Oportunidade do tamanho de um elefante

Imponente no Centro de Itabira, “Elefante Branco” está a venda

Parado no tempo há mais de 15 anos, o Center Shopping chama atenção de quem passa pelo Centro de Itabira. A pergunta é iminente: como um prédio tão bem localizado pode estar abandonado? A resposta não é simples. São muitas questões que, ao longo de mais de uma década, fizeram estacionar um empreendimento que tinha tudo para dar certo. Melhor dizendo, ainda tem!
 
A inércia do projeto fez com que o prédio ganhasse o apelido de “Elefante Branco”, expressão que costuma ser utilizada quando grandes construções se transformam em desperdícios, seja por causa da inutilidade ou pela interrupção das obras. Com a edificação parada e a incorporadora sem condições para dar prosseguimento à obra, os condôminos do Center Shopping resolveram vender o prédio. Eles apostam na ótima localização e nas condições de bons investimentos como atrativos para a negociação.
 
O prédio foi construído pela Itacon Engenharia Ltda. As obras começaram a todo vapor, em 1991, e, rapidamente, o edifício ganhou corpo. Várias lojas foram negociadas. A expectativa era de retorno financeiro certo, mas o empreendimento parou e o prédio está há anos acumulando problemas.
 
O edifício tem 8 mil m² de área construída em seis pavimentos, com 76 unidades autônomas entre salas e lojas. A estrutura conta com uma cascata e um terraço com vista panorâmica para grande parte da cidade. A ideia inicial era fazer um cinema no último andar, com praça de alimentação. O espaço para isso já está preparado, contando, inclusive, com estacionamento subterrâneo.
 
A decisão pela venda do imóvel se deu em assembleia realizada no dia 27 de junho deste ano, quando os condôminos foram informados pela atual situação do imóvel. Um dos membros da comissão de representantes, Cáscio Franscisco Cota, fala da situação: “Decidimos vender porque chegamos à conclusão de que é a melhor opção. O prédio está parado e é uma pena que esteja nessas condições. É um empreendimento que ainda tem tudo para dar certo”.
 
Os condôminos são assessorados pela advogada Juliana Maria Ribeiro França. De acordo com ela, todos estão conscientes quanto a atual situação e querem mudá-la. “Aprovar a venda do imóvel em assembleia, e por unanimidade de votos entre os presentes, foi, sem sombra de dúvidas, a maior prova de que é possível passar esse sonho adiante, viabilizando nova destinação ao prédio”, argumenta.
 
Em seu escritório, Juliana coleciona centenas de documentos relacionados ao Center Shopping. São várias pastas com volume proporcional à quantidade de pendências que surgiram ao longo dos anos. “A paralisação das obras por tanto tempo fez do Center Shopping uma incógnita. São muitas opiniões, umas positivas, outras não. No entanto, após minuciosa análise, não encontrei nenhum obstáculo para a regularização do imóvel”, assegura a advogada. Segundo ela, concretizada a venda, a comoção será geral, afinal, todos torcem para o desfecho positivo do caso. “Sem condições de dar continuidade à obra, a melhor solução para os condôminos foi colocar o prédio à venda, o que evitará maiores prejuízos e possibilitará o cumprimento da sua função social”, conclui.
 
Inspirada em Carlos Drummond de Andrade, Juliana França expressa seu sentimento em relação ao Center Shopping referindo-se às pedras do caminho como parte do passado, desde que haja, claro, um investidor.
 
Por que comprar?
 
Para Cáscio Francisco Cota, a aquisição do Center Shopping é sinônimo de retorno financeiro. “É uma negociação na qual o comprador vai ter, de início, que investir uma quantia boa. Mas o retorno é certo. O ponto é muito bom. Excelente, na verdade. Não tem como um comércio bem no centro da cidade dar errado”, afirma.
 
Dentro do prédio é possível perceber que algumas lojas já tinham colocado placas comerciais, identificando seus espaços. O tamanho da cascata impressiona. “A água já foi ligada uma vez. Lembro que tivemos uma feira (comercial) aqui dentro e a cascata estava funcionando. Era muito bonito”, recorda. “A gente quer ver isso aqui a pleno vapor. Esperamos encontrar um comprador e ver tudo isso funcionando”, diz Cáscio.
 
A lojista Maria Helena Ferreira de Sá também integra o grupo de condôminos. Ela enfatiza a oportunidade de negócio. “Se eu tivesse como comprar, já teria feito”, afirma. “Quem comprar vai ganhar dinheiro. O local é muito bom, as lojas são amplas, bem feitas, não tem muito em que mexer. Quem puder comprar, não deve perder a oportunidade”, completa.
 
O estudo do empreendimento
 
O prédio do Center Shopping causa impacto direto na vida do itabirano e a prova disso é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) desenvolvido pelo estudante de Administração da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (Funcesi), Pedro Henrique Silva Barbosa. Ele analisou as partes interessadas no projeto do “Elefante Branco”, chamados de stakeholders. “Como itabirano, sempre tive a curiosidade e vontade de fazer algo em relação ao prédio. A partir do curso de Administração vi a oportunidade perfeita para estudar o empreendimento inacabado de acordo com minha área de atuação”, comenta o estudante.
 
Segundo o universitário, a pesquisa aponta que os itabiranos têm vários sentimentos a respeito do prédio do Centro da cidade: vergonha, pela existência da obra inacabada; incômodo, revolta, insatisfação, impressão de espaço desperdiçado e de prejuízo a Itabira e população. “Entretanto, é importante destacar a presença do sentimento de esperança constante dentre os comentários negativos, os quais sempre ressaltaram que a retomada da obra seria positiva para a cidade”, aponta o pesquisador.
 
A pesquisa de Pedro Henrique mostra que, se depender dos sentimentos da população itabirana em relação ao prédio, o apoio ao novo investidor será maciço. “Não devemos apenas enxergar o lado negativo atual, mas sim a responsabilidade social que envolve o projeto e as pessoas ligadas a ele, a fim de garantir uma boa e bem sucedida execução”, afirma Pedro Henrique. “Acredito que a partir de um impulso para a finalização, o prédio ostenta fortes características que podem ocasionar o sucesso, considerando o espaço, a localização e o apoio da população acerca da obra”, complementa o pesquisador.      
 
O Center Shopping é prova de que um elefante pode mesmo incomodar muita gente. Contudo, também é fato que não é preciso ir até o Oriente para transformá-lo numa grande oportunidade de negócio.